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Documentação

Introdução: arquitetura SPARC e o trabalho desenvolvido

A arquitetura SPARC(Scalable Processor ARChitecture) é uma arquitetura aberta RISC criada em 1987 pela SUN Microsystems. Neste trabalho usaremos a versão 8 da SPARC, de 32 bits como inspiração para fazer um processador ciclo único que execute um algoritmo simples de teste de paridade de bits. Todos os códigos escritos, análises e passos para a conclusão do projeto estão em um repoitório no Github referenciado ao final deste documento.

Características da arquitetura mais relevantes para nossa aplicação:

Banco de registradores

de tamanho variável São 8 registradores globais + N janelas de 16 registradores sobrepostas. Uma implementação pode ter de 40 registradores (duas janelas) até 520 registradores (32 janelas). Como há sobreposição de registradores, mostrado nas figuras X e Y, o número de unidades no hardware é menor. Mais informações sobre as imagens no documento referenciado.
sobreposicao_regs roda_das_janelas
Figuras mostrando a organização dos registradores na arquitetura SPARC.

Dois registradores Program Counter A arquitetura SPARC prevê dois Program

Counters: nPC e PC. PC guarda o endereço da instrução a ser executada no ciclo, enquanto nPC guarda o endereço da instrução seguinte.

Branch com comparação anterior e instrução atrasada

As intruções de Branch na arquitetura envolvem outras duas instruções. A primeira é uma pseudoinstrução de comparação, cmp, que subtrai dois operandos e armazena 4 valores referentes a essa operação, como existência overflow ou resultado negativo, em um registrador específico, o registrador de estados do processador. Esses quatro valores serão utilizados como condição para o desvio pela própria instrução de branch (bl por exemplo). A segunda é uma instrução que fica logo depois da instrução de branch e pode ou não ser executada. Isso é possível porque o branch altera nPC, e não PC.

Demais características

Diversas características da arquitetura SPARC não foram citadas por não serem relevantes em nossa aplicação. Entre elas: Coprocessador, Unidade de Ponto Flutuante, Registradores de Estado, Traps, etc.

Algoritmo utilizado

O algoritmo de teste de paridade é bastante simples. Ele retorna o resultado '1' caso o número de bits '1' no dado de 8 bits seja par e '0' caso seja ímpar. Para computar tal resultado, basta fazer a operação XOR do bit de paridade (inicialmente em '1', já que foi utilizada a paridade par) com cada bit do dado, um após o outro. A seguir estão os códigos implementados em C, assembly e linguagem de máquina. Neste arquivo é possível ver a correspondência entre o código de máquina e a sintaxe em assembly.

Código em C

/*
 * Programa de teste de paridade: crc = 1 paridade par e crc = 0 paridade ímpar
 */
#include <stdio.h>

boolean crc(){
  int crc = 1;//se tudo for zero, o crc não se altera e a paridade é par
  int dados = 0x04;//somente 8 bits são usados
  for(int i = 0; i < 8; i++){
    //faz XOR do CRC com o bit i dos dados (começando do bit zero)
    /*
     * exemplo
     * dados = 0x04;
     * dados >> 2 = 0x01;
     * ( (dados >> 2) & 0x1 ) = 1;
     *
     */
    crc ^= (dados & 0x1);
    dados = dados>>1;
  }
  return crc;
}
Código em Assembly do SPARC


! Instruções a serem usadas:
! ld - pra iniciar variáveis
! add - pro for
! cmp a,b = subcc a, b, %g0 - para mudar o icc e usar o bl
! bl,a - "Branch on Less" com annul ",a" pro for
! srl
! xor
! and

! banco de registradores reduzido: 32 de uso geral + 2 de estado:
! %g0 ~ %g7 = %r0  ~ %r7   - registradores globais
! %o0 ~ %07 = %r8  ~ %r15  - registradores Out
! %l0 ~ %l7 = %r16 ~ %r23 - registradores locais
! %i0 ~ %i7 = %r24 ~ %r31 - registradores in
! %g0 = %r0 = constante 0
! de estado:
! %psr - registrador de estado, usa ele no bl
! PC - Program Counter

!seções devem ser iniciadas assim:
.section ".data"
    dados:  .word 4    !dado de 8bits a ser analisado
    crc:    .word 1    !se dados = 0, crc = 1 e paridade par

.section ".text"

main:   ld crc , %l0        ! traz os dados da memória de dados
        ld dados , %l1      ! para os registradores locais

        add %g0, 0, %l7   ! inicia %l7 = i = 0

for:    and %l1, 1, %l2     ! pega o LSB do dados atual e poe em %l2
        xor %l0, %l2, %l0   ! atualiza o crc com o bit de dados
        srl %l1, 1, %l1     ! dados >>= 1

        add %l7, 1, %l7     ! incrementa i
        cmp %l7 , 8         ! compara i com 8 e modifica o icc
        bl for; nop         ! se i < 8 volta pro for, a instrução de delay tem que existir de qualquer jeito,
                            ! mas a gente vai ignorar isso no caminho de dados
!FIM, o resultado com crc fica em %l0
Linguagem de Máquina:
Instrução 0 (ld) - 11100000000000000010000000000001
Instrução 1 (ld) - 11100010000000000010000000000000
Instrução 2 (add) - 10101110000000000010000000000000
Instrução 3 (and) - 10100100100011000110000000000001
Instrução 4 (xor) - 10100000001111000000000000010010
Instrução 5 (srl) - 10100011001101000110000000000001
Instrução 6 (add) - 10101110000001011110000000000001
Instrução 7 (cmp) - 10000000101001011110000000001000
Instrução 8 (bl) - 00000110100000000000000000000011

Datapath e Control Unit

painel_onda

Decisões de projeto

De maneira geral, as decisões de projeto foram tomadas tendo em vista a construção do mínimo de componentes necessário para a execução do algoritmo. As principais decisões estão listadas a seguir:

  1. Como usaremos uma quantidade muito pequena de registradores e não precisaremos de mudar de contexto em momento algum, reduzimos o banco de registradores para 32 registradores, havendo só uma janela. São 8 globais (%g0 ~ %g7) e 24 de uso geral em três blocos de 8 (%o0 ~%o7, %l0 ~ %l7, %i0 ~ %i7).
  2. Nosso processador é ciclo único e, por isso, adaptamos o Program Counter e a instrução de branch. Sem a presença de um pipeline não é preciso aguardar o branch ser calculado e executar outra instrução enquanto isso. O registrador nPC foi retirado, ficando apenas PC, e o branch passou a modificar diretamente PC, diferentemente de antes, que modificava nPC.
  3. Usamos apenas um registrador de estado, o Processor State Register, e dele aproveitamos apenas um bit. O bit aproveitado (N) indica se o resultado da última operação da ALU foi negativo e é usado para decidir se o branch será tomado ou não.
  4. O manual dava liberdade de implementar tanto uma memória única para dados e instruções quanto usar duas memórias separadas. Optamos por separar a memória de dados da memória de instruções.
  5. O conjunto de operações da ALU foi reduzido para atender às nossas necessidades.

Implementação do processador

O processador foi implementado em linguagem VHDL e verificado utilizando o ModelSim. A figura X mostra o processador desenvolvido com o caminho de dados e a unidade de controle.
(imagem)
Em seguida uma breve descrição de cada componente.

ALU

Declaração em VHDL:

entity alu is
    port(
        src_a : in std_logic_vector(31 downto 0); -- entrada a
        src_b: in std_logic_vector(31 downto 0); -- entraba b
        shift_amount: in std_logic_vector(4 downto 0); -- quantidade de deslocamento: pode deslocar 32 bits
        alu_control : in std_logic_vector(3 downto 0); -- controle de operação
        alu_result : out std_logic_vector(31 downto 0); -- resultado de operação
        negative: out std_logic; -- sinaliza se resultado foi negativo
        zero : out std_logic); -- bandeira que indica se resultado foi zero

end alu;

A ALU implementada realiza as operações listadas na tabela a seguir. Ao lado esquerdo do nome da operação está seu identificador binário.

op_id operacao
0000 soma
0001 subtração
0010 and
0011 or
0100 xor
0111 shift right logical

Observa-se que duas outras operações foram implementadas mas não usadas no processador, portanto omitidas.

A ALU calcula a operação desejada entre dois sinais de 32 bits, retornando o resultante em um sinal de igual profundidade.

Além de ter como saída o resultado da operação a ALU sinaliza se o resultado foi negativo utilizando o bit mais significativo do resultado, já que usa-se complemento de 2. Isso é importante para a instrução de desvio condicional, que funciona armazenando um sinal que indica se a última operação realizada foi negativa no registrador "psr".

Banco de registradores

Declaração em VHDL:

entity register_file is -- registrador de 32 palavras

    port(
         ra_1, ra_2, wa_3 : in std_logic_vector(4 downto 0); -- entradas com endereço
         clk : in std_logic;
         we : in std_logic; -- write enable
         wa_3_data : in std_logic_vector(31 downto 0); -- entrada de dados de escrita
         ra_1_data, ra_2_data : out std_logic_vector(31 downto 0) -- saída de dados de leitura
        );

end register_file;

Mesmo modelo utilizado no livro-texto da disciplina, com leitura assíncrona e escrita síncrona.

Unidade de Controle

Declaração em VHDL:

entity control is
    port(
         opcode : in std_logic_vector(5 downto 0);
         format : in std_logic_vector(1 downto 0);
-- sinal que determina se ocorre escrita em memoria de dados
         data_we : out std_logic;
-- sinal que determina se pode ocorrer um branch (depende adicionalmente da saida negativa da alu. vide documentacao)
         branch : out std_logic;
-- sinal que determina se ocorre escrita nos registradores
         register_we : out std_logic;
-- sinal que determina a fonte do dado a ser escrito nos registradores (entre saida da memoria de dados ou da alu)
         regwrite_source : out std_logic;
-- sinal que determina se ocorre escrita no psr
         psr_we : out std_logic;
-- sinal que determina a operacao da alu
         alu_control : out std_logic_vector(3 downto 0));
end entity;

A unidade de controle é responsável por controlar permissões de escrita e os vários mutliplexadores distribuídos no datapath para a execução das instruções. A unidade recebe como entrada os sinais "opcode" e "format".

A tabela de verdade para a unidade de controle é apresentada a seguir:

Mnemônico opcode format data_we register_we branch regwrite_source psr_we alu_control
ld 00000 11 0 1 0 1 0 0000
add 00000 10 0 1 0 0 0 0000
and 010001 10 0 1 0 0 0 0010
xor 000111 10 0 1 0 0 0 0100
srl 100110 10 0 1 0 0 0 0111
subcc 010100 10 0 1 0 0 1 0001
bl xxxxxx 00 x x 1 x 0 xxxx

O destino e a função de cada um dos sinais de saída é detalhado de forma visual na ilustração do datapath desenvolvido. Ressalta-se que parte das entradas da Unidade de Controle real, como o campo cond da instrução branch, não foram representadas pois não as utilizamos no código

Memórias
  • Memória de dados
    Declaração em VHDL:
entity data_memory is -- memoria de dados de 32 palavras

    port(
         data_address: in std_logic_vector(4 downto 0); -- data address
         clk : in std_logic;
         we : in std_logic; -- write enable
         write_data : in std_logic_vector(31 downto 0);
         data : out std_logic_vector(31 downto 0)
        );

end data_memory;

A memória de dados possui entrada e saída de dados, com entrada de endereço e de habilitação de escrita.

  • Memória de instrução
    Declaração em VHDL:
entity instruction_memory is

    port(
            set : in std_logic; -- sinal para carregamento de progrma
            address : in std_logic_vector(4 downto 0);
            instruction : out std_logic_vector(31 downto 0));

end instruction_memory;

Como nunca há escrita na memória de instrução, ela possui apenas entrada de endereço e saída assíncrona. O sinal set é usado somente para iniciar a memória por meio de um testbench.

Extensor de sinal

Declaração em VHDL:

entity signex is
    generic(size: integer := 12); -- na verdade é tamanho - 1
    port(
         signex_in: in std_logic_vector(size downto 0);
         signex_out: out std_logic_vector(31 downto 0));
end signex;

Extende em sinal o imediato de 13 bits.

Somador

Declaração em VHDL:

entity adder is
    port(
         src_a : in std_logic_vector(4 downto 0);
         src_b : in std_logic_vector(4 downto 0);
         sum : out std_logic_vector(4 downto 0));
end adder;

Somador com sinal, para o endereço de PC. Note que PC foi reduzido e usa somente 5 bits.

PC

Descrição em VHDL:

entity program_counter is -- registrador que armazena endereços de instruções

    port(
         next_instruction_address : in std_logic_vector(4 downto 0);
         clk : in std_logic;
         current_instruction_address : out std_logic_vector(4 downto 0)
        );

end program_counter;

Registrador de 5 bits com entrada paralela.

PSR

Declaração em VHDL:

entity ps_register is -- registrador que armazena se ultima operacao da alu foi negativa

    port(
         psr_we : in std_logic; -- write enable
         next_input : in std_logic;
         clk : in std_logic;
         last_input : out std_logic
        );

end ps_register;

Só é usado 1 bit desse registrador, então ele foi reduzido.

Notas sobre e execução

O trabalho foi desenvolvido inteiramente com o ModelSim gratuito distribuído para linux. Optou-se por desenvolver e verificar, por meio de códigos de testbench, cada componente usado no processador antes de iniciar a integração. Cada componente e seus respectivos testbenches estão armazenados em "tinker/components". A verificação dos componentes e do processo de integração do processador, assim como a execução do programa armazenado em memória, foram feitas no simulador oferecido pelo ModelSim.

A execução do programa em memória deve portanto ser feita abrindo o ModelSim, abrindo o testbench compilado "sparc/work/tb_sparc", e executando o arquivo .do projetado para essa execução, clean_test.do, por meio do comando "do clean_test.do" no console do ModelSim.

A seguinte seção exemplifica um processo simples de acompanhamento da execução do programa em memória.

Resultados e simulações

Ao executar "do clean_test.do" observa-se a seguinte figura na janela de visualização de onda:

painel_onda

Os sinais ao lado esquerdo da imagem foram escolhidos como os mais relevantes para análise do processamento do programa armazenado, mas é possível visualizar todos os sinais executando "do test.do".

O primeiro grupo de sinais a ser comentado são "u_instruction_memory/instruction", "u_program_counter/current_instruction_address" e "u_program_counter/next_instruction_address, que representam a instrução associada ao ciclo atual, o endereço de tal instrução e o endereço da próxima instrução, respectivamente.

Com esse trio de sinais já é possível monitorar o funcionamento adequado do mecanismo de desvio condicional desenvolvido para implementar o laço "for" do programa em alto nível. A linha amarela vertical na imagem abaixo indica um evento em que o endereço de um salto é calculado e selecionado. Observe que "next_instruction_address" deixa de se incrementar consecutivamente e passa de 8 para 3, retornando a execução ao início do laço. A instrução em si de fato se altera para a instrução presente no endereço 3 da memória de instrução.

exemplo_branch

Outros conjunto de sinais importante para o acompanhamento dos branches são a entrada e saídas da porta and que determina um branch, "u_branch_and/". A saída dessa porta, "u_branch_and/and_out", sinaliza se o branch foi tomado de fato. A imagem abaixo ilustra o momento em que um branch ocorre.

exemplo_branch

Nesse ponto é interessante observar a saída da versão em C do programa que o processador executa. Recorre-se como referência ao código "paridade.c". Imprimindo os valores das variáveis "crc" e "dado" a cada iteração do loop do CRC obtém-se a seguinte saída:

sobreposicao_regs

Uma vez que esse é exatamente o programa escrito em linguagem de máquina na memória de instruções assume-se como condição suficiente para conclusão que o processador foi implementado com sucesso a observação dos mesmos valores nas variáveis relevantes durante a simulação de execução do program armazenado.

Para tal observação é necessário se atentar ao sinal que representa a memória dos registradores, "u_register_file/mem". A imagem abaixo mostra um estado intermediário desse sinal, onde se espera encontrar "crc = 1" e "dado = 2".

exemplo_branch

Sabendo que os registradores em que os dados mencionados são armazenados são (em decimal) 16 e 17, respectivamente, nota-se que nossa expectativa é atendida.

A verificação de que os valores seguintes desses registradores se comportam como esperado pode ser feito da mesma maneira. A imagem a seguir ilustra o estado final da memória de registradores.

exemplo_branch

Para finalizar a análise dos registradores nota-se que o registrador 23, responsável por armazenar a variável "i", armazena 8 como esperado.

Por fim chama-se atenção aos sinais de controle, ilustrados em um dado momento da execução na imagem a seguir.

exemplo_branch

Como já mencionado o arquivo "clean_test.do" carrega outros sinais em sua representação numérica apropriada que foram considerados importantes para a análise brevemente descrita nessa seção.

Nota sobre encerramento

O encerramento da execução do programa é feito no arquivo "clean_test.do" por meio das seguintes linhas:

when {sim:/tb_sparc/uut/u_program_counter/next_instruction_address == "01010"} {
  stop
  echo "Programa chegou ao fim"
}

Que simplesmente encerra o programa se o endereço da próxima instrução for igual a 10, isso é, se a condição pra o branch falhar, evento correspondente à saída do laço for. A imagem a seguir ilustra a saída no console indicando a parada.

exemplo_branch

Referências

Repositório Github https://github.com/gtLara/sparc
The SPARC Architecture Manual, Version 8, https://sparc.org/
Apresentação de slides do curso CS217 - Programing Systems de Princeton
https://www.cs.princeton.edu/courses/archive/spring02/cs217/lectures/sparc.pdf
https://www.cs.princeton.edu/courses/archive/spring03/cs217/lectures/Branching.pdf

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